Observatório Luminar
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Ocupação e resistência

Os alunos de universidades públicas têm se deparado com uma realidade de descaso e falta de transparência nas gestões. O ensino superior público, um avanço em uma nação que engatinha na melhora de políticas públicas para a educação básica, mostra que ainda tem um grande caminho a percorrer. As várias falhas de distribuição de verbas, além da recente onda de cortes são problemas que vem dificultando a vida acadêmica. A história de Jamille Alonso, 19, é um exemplo das dificuldades encontradas por inúmeros universitários na luta por direitos.      Jamille é uma das militantes do movimento estudantil de Monte Carmelo envolvida nos atos para pressionar o reitor Elmiro Santos Resende entre os dias 2 e 7 de junho. Os alunos ocuparam a reitoria da UFU até que haja propostas concretas de mudança. Por entre as barracas e colchões improvisados, a estudante de engenharia florestal parecia animada e aberta para conversar. Com um sorriso no rosto, e mesmo após uma noite cansativa, mostrou determinação ao afirmar a esperança em uma educação para todos. “A Luta não é só nossa. É também das outras turmas que virão. Se ninguém se mobilizar, vai continuar assim por muito tempo”.    Ela ingressou em 2015 na 1ª turma de Engenharia Florestal da UFU, campus Monte Carmelo. Seguiu então novos caminhos, longe de Ribeirão Preto (SP) e de sua família. Ao longo de um ano se aproximou cada vez mais do movimento estudantil, como resultado de sua indignação frente aos problemas vividos na universidade.Jamille Alonso acampou na Reitoria da UFU dos dias 2 a 7 de junho. (Foto: Nasser Pena/Agência Conexões).  Descaso A escolha do curso de graduação não foi algo planejado por Jamille. “Eu sempre gostei de biológicas, te digo que estou me apaixonando pelo curso aos poucos. O que dificulta é a situação da faculdade, mas eu pretendo exercer.” Assim como ela, muitos alunos dos campi avançados vêm abandonando os cursos por oportunidades melhores. Em sua própria turma restam 23 alunos de um número inicial de 40. As condições estruturais e de ensino são precárias ao ponto de atrasar o curso e dificultar futuras pesquisas e estágios. A falta de professores devidamente especializados é uma realidade, assim como a escassez de editais para contratação de novos docentes. O clima de insatisfação é evidente. Jamille Alonso demonstra a diferença entre repasses de verbas com uma constatação. Enquanto na UFU, campus Santa Mônica, há recente abertura de complexo esportivo, não há sequer asfalto ou água em Monte Carmelo. De acordo com a estudante, a situação do campus em Monte Carmelo é alarmante. Faltam laboratórios e professores. Não há restaurante universitário ou moradia estudantil. Segundo Jamille, o assessor administrativo da reitoria em Monte Carmelo, Edmar Isaias Mello, solicitou as mudanças no campus, que ainda não foram realizadas. “Ele começou a alertar as pessoas, mas até hoje estamos sem tratamento de água. […] Dizem que foi solicitado asfalto, até agora não chegou. Então é sempre assim. Essa é a proposta da ocupação, sairmos com propostas concretas e não só promessas como sempre”. Esperança Apenas por pressão estudantil as mudanças parecem possíveis. A militante acredita com convicção na luta coletiva e resiste. De dentro de sua barraca improvisada se faz vista pela reitoria. “Essa foi uma das medidas mais radicais. Para sair de Monte Carmelo, mobilizar uma galera, conseguir ônibus, para vir para cá e não conseguir nada? Seria muito frustrante. Mas a gente vai ficar aqui, enquanto a reitoria não der um parecer, não der uma data, a ocupação vai se estender”, diz Jamille com esperança. A estudante terminou a conversa com o mesmo sorriso simpático e um olhar profundo   

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