14 jul Os livros viajantes de Uberlândia: a rotina do Ônibus Biblioteca
Já pensou em ter um acervo de três mil livros à disposição em uma biblioteca ambulante? Parece utopia, mas em Uberlândia é uma realidade. O projeto é da Secretaria de Cultura da Prefeitura da cidade e é conhecido como Ônibus Biblioteca. O objetivo é levar oportunidade de leitura à população que, muitas vezes, não teria acesso aos livros se não fosse pela política pública, que através do automóvel percorre dez bairros em visitas quinzenais.
O Ônibus Biblioteca, que completou 30 anos em abril de 2017, foi reativado após quase um semestre sem atuação. A movimentação de empréstimos é, em média, de 900 a 1200 obras mensalmente.
Maria Luísa de Ávila, técnica em serviço público, que trabalha no Ônibus Biblioteca há 16 anos, conta que os livros emprestados pelo projeto ajudam na formação de leitores e são uma forma de combate ao analfabetismo. “Nós temos uma senhora que leva [o livro] porque a filha está lendo para ela. Ela está tentando juntar as palavras para conseguir, porque não sabe ler. A senhora não deu conta de pegar um livro pra ler [sozinha], então a filha leva e incentiva”, conta.
Legenda foto II: Núbia frequenta o Ônibus Biblioteca há mais de 16 anos e valoriza a acessibilidade aos livros fornecida pelo projeto. Foto: Cecília Almeida
Desafios
Maria Luísa explica que a biblioteca móvel enfrenta dificuldades para continuar atuante. Segundo ela, um dos principais problemas são os livros digitais. Antes o ônibus costumava oferecer xerox de materiais e trabalhos para os estudantes, mas, nos dias atuais, muitos jovens preferem ler na internet, ao invés de pegar a versão impressa, o que acabou fazendo com que o movimento do carro-biblioteca diminuísse. Contudo, ainda existem os leitores que privilegiam o livro impresso e a experiência de ter a obra em mãos, pois, para alguns, a tecnologia não substitui o modo antigo de leitura. A perseverança do hábito da leitura de livros impressos garante a realização de oito a dez novas carteirinhas mensalmente por bairro.
Outro problema elencado pela técnica é operacional, pois, para funcionar, é preciso de alguma fonte de energia e de um tempo atmosférico favorável. Ela também cita o medo da violência que os cinco funcionários enfrentam e a necessidade de estarem sempre preparados para qualquer problema. Maria Luísa também vê com preocupação o fato de que algumas pessoas pegam os livros, mas não efetuam a devolução. Por exemplo, o livro Tambores de Angola, de Robson Pinheiro, que é uma obra com mais de 200 mil exemplares vendidos, foi emprestado a uma mulher que nunca o devolveu. “Era um dos livros mais procurados do acervo”, lamenta a técnica.
Como funciona
O acervo do Ônibus Biblioteca é antigo e existe desde o início do projeto. Entretanto, o estoque se atualiza à medida que o ônibus ganha novos livros, por meio de doações dos próprios usuários ou pela compra realizada pela Biblioteca Municipal, conforme as novidades e lançamentos do mercado.
Os títulos mais procurados são os infantis, infanto-juvenis, espíritas, de autoajuda e literatura brasileira e americana. O gênero mais lido é a literatura infanto-juvenil, mesmo idosos preferem esse tipo de leitura. Maria Luísa explica que a preferência por esse gênero acontece em razão da dificuldade que algumas pessoas possuem com outros tipos de leitura. Livros da saga Harry Potter, de J. K Rowling e Percy Jackson, de Rick Riordan, por exemplo, são constantemente emprestados.
Entre os principais benefícios do Ônibus Biblioteca está o fato de não serem cobradas taxas para o cadastro e nem multa por empréstimos atrasados, como faz a Biblioteca Municipal. Para conseguir efetuar o cadastro “é preciso RG, CPF e comprovante de residência e, para menores de idade, a presença dos responsáveis”, como conta Denise Carvalho, coordenadora da Biblioteca Municipal e do projeto.
Cada pessoa pode pegar até três títulos entre às 9 e 13 horas, de segunda a sexta-feira, período de permanência do automóvel em cada bairro. “O ônibus sai da Biblioteca Municipal e, ao chegar nos bairros, toca uma vinheta para avisar a comunidade. Depois se encaminha para o ponto fixo conhecido por todos na região e permanece estacionado até o início da tarde. A população tem opção de ler no local, ocupando cadeiras que são disponibilizadas para o projeto, ou de levar o livro para casa”, completa a coordenadora.
Os empréstimos geralmente podem ser renovados uma vez após quinze dias, mas essa concessão não se estende aos livros didáticos, pois eles são muito procurados.
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