
21 set Percebendo o caminho
CRÔNICA | Drummond nunca foi mais verdadeiro. Tinha uma pedra no meio do caminho. Enquanto andava, divagava e percebia que, além das pedras tinha uma calçada desnivelada, muitas escadas, depressões na rua, rampas estranhíssimas, pisos escorregadios, alguns postes e lixeiras mal colocados em tortuosos caminhos com espaços apertados e nenhuma adaptação. Ao olhar atentamente, descobriu que o caminho também era feito de pessoas mal informadas e mal-intencionadas, que estavam se tornando péssimos profissionais, e uma parcela usufruindo de algo que não tinha o direito.
Os problemas cotidianos, enfrentados por quem vive com limitações físicas, vão desde infraestrutura desfavorável ao preconceito piedoso. | Foto: Pixabay
Às vezes, entretanto, o caminho não é tão ruim. Em suas andanças, encontrou lindas rampas, que são maravilhosamente úteis ou elevadores sagazmente posicionados. Conheceu, também, caminhos feitos de gente com bom coração, gentil o bastante para não só ajudar, mas saber quando a ajuda é necessária. Aquele tipo de pessoa, que se levanta no ônibus para dar lugar a uma senhora, o tipo de pessoa que não fura filas, que sempre dá informações. Entre avenidas e vielas, pude perceber o quanto o caminho tem a dizer, quanta história tem a contar, pois são as conquistas e lutas de uma comunidade antes silenciada.
Em seus anos, com cada vez mais conhecimento e esperteza, descobriu as pedras subjetivas, aquelas mais profundas, pertencentes a obstáculos menos físicos. Pedras mais complicadas de contornar ou de se esmagar. São as pedras demonstradas em olhares, conversas e pensamentos. São as pedras do descaso, do preconceito, da pena e do espanto. Descobriu, quando caminhava, as histórias de luta para quebrar o descaso, que envolviam movimentos políticos e paradigmáticos sobre olhar da sociedade em relação a um grupo. Também encontrou os meios de lidar com o preconceito, digerir a pena. Encontrou-se, então, diante do espanto. O mais complicado, após se provar, é ter de provar o quão comum eram suas ações, a falta de extraordinário no viver sozinho e levar uma vida normal.
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