Observatório Luminar
Luminar é um observatório de mídia voltado para o acompanhamento sistemático da cobertura jornalística sobre políticas públicas. Acesse clicando aqui

Pesquisa transforma escola em ambiente de aprendizagem na prática

A Escola de Educação Básica (Eseba) mantém um Grupo de Pesquisa em Inovações Tecnológicas (GEPIT) que vem se destacando nos últimos anos na Instituição e fora dela. O grupo é formado por 40 pessoas e trabalha o tema sustentabilidade,  com eixos ambiental, econômico, social e cultural. Dos participantes, 30 são alunos  do ensino básico e do Programa de Educação de Jovens e Adultos Formação Inicial e Continuada (Proeja Fic), responsáveis por propor e realizar as pesquisas sob orientação de  cinco bolsistas e cinco professores, sendo três deles coordenadores. Ainda dentre os 30 estudantes,  cinco são da Escola Estadual Clarimundo Carneiro, parceira do projeto.

 

O projeto surgiu com o fim do Programa de Iniciação Científica Discente (PICD) e com a criação da Feira Brasileira de Colégios de Aplicação e Escolas Técnicas (FEBRAT),  em 2013. A partir da participação na FEBRAT, a Escola Base é premiada nacionalmente e indicada a participar de prêmios internacionais. Entretanto, por motivos de custeio, puderam estar presentes apenas em uma das credenciais de premiação do exterior, no Equador, em 2015.

 

Hoje  existem 12 grupos de pesquisa oriundos do GEPIT na Eseba, o que dificulta a locomoção dos participantes em decorrência da verba destinada à pesquisa. “O quantitativo de alunos é muito grande pra você conseguir ir em mais de um evento”, ressalta Maísa Silva, professora coordenadora do projeto. Diante disso, o grupo prioriza a participação em eventos nos quais seja possível levar um maior número de alunos e que tenham como foco a pesquisa no nível fundamental.

 

André Sabino, diretor da escola, explica que isso se deve à ausência de verba efetiva destinada à pesquisa de alunos da escola básica. “Não existe financiamento ou possibilidade de financiamento para pesquisa de alunos da escola básica do interior da Universidade. A verba vem carimbada para alunos do magistério superior”, pontua Sabino. De acordo com o diretor, o custeio da participação e locomoção dos alunos para diferentes eventos referentes à pesquisa são retirados do orçamento da escola. Em caso de viagens internacionais, a escola não tem condições financeiras de manter as despesas de grupos grandes nos eventos. Por isso,  recorrem à UFU, mesmo sabendo da ausência do amparo federal para subsidiar o auxílio.“A Universidade se vê barrada pela inexistência, em âmbito federal, do financiamento efetivo da pesquisa para alunos da educação básica”, esclarece o diretor.

 

Outro embate enfrentado pelo projeto, levantado pela coordenadora, é a ausência de reconhecimento do estudante da educação básica enquanto pesquisador. “Eu consigo cadastrar a pesquisa, mas não consigo cadastrar ele (estudante de educação básica) enquanto aluno pesquisador”, afirma Maísa.

 

“Nossa preocupação maior é a formação” diz Raquel Machado, coordenadora do projeto. Foto: Ygor Rodrigues/Agência Conexões

 

Pesquisa

 

Todo o trabalho, desde o surgimento do tema às discussões e elaboração das pesquisas, é determinado pelos próprios estudantes pesquisadores. A orientação dos professores surge nos processos técnicos: escrita, argumentação, adequação às normas de um artigo científico e pesquisa em fontes confiáveis. Os alunos também recebem orientação em processos norteadores do projeto: delimitação do tema de pesquisa, pergunta, hipóteses, relevância e referência bibliográfica. O desenvolvimento do trabalho acontece por meio da troca de conhecimento, tanto da técnica dos orientadores, quanto do interesse dos alunos em aprender mais e de uma forma qualificada. Tal metodologia enriquece o conhecimento, como ressalta Sabino:  “as possibilidades são pulsantes e transformam a escola em um ambiente de aprendizagem onde todos aprendem”.

 

Há um trabalho de descrição das atividades realizadas, chamado de diário de bordo. Nele são expostas cada etapa da pesquisa, que vai desde a discussão e delimitação do tema à produção efetiva do artigo. Toda produção é de responsabilidade dos estudantes, sob supervisão dos professores e bolsistas orientadores.

 

Os grupos são divididos de acordo a similaridade temática, independente da faixa etária ou nível de escolaridade. Para auxiliá-los em conteúdos ainda não elucidados em sala de aula, mas que compõem parte do projeto de pesquisa, são ofertados grupos de estudo uma vez por semana com o intuito de suprir as necessidades desses conhecimentos. Vinícius Mota, por exemplo, é estudante do nono ano e desenvolve pesquisa sobre “energia fotovoltaica”, mas ainda não teve contato com Física e Química em sua grade escolar. Desse modo, participa do grupo de estudos, buscando entender melhor o propósito de sua investigação. “Isso é um incentivo. Aqui já me dá uma base sólida pra eu chegar lá (Universidade) e fazer uma pesquisa muito boa”, comenta o aluno.

 

No ano passado, além da produção científica e dos seus respectivos produtos, o projeto de pesquisa , trouxe uma novidade. Foram ofertados minicursos, produzidos pelos próprios pesquisadores, a estudantes de uma  outra escola que não participavam do projeto. A iniciativa, que naquele período trabalhou com filtros de água, despertou o interesse de vários alunos. Dentre eles, Filipe Silveira, estudante do 5° ano, que também foi influenciado pela participação de sua irmã no projeto. “Ela falava que era muito legal pesquisar. Tinha que ficar observando e achava interessante, daí eu quis participar também”, conta.

 

Na perspectiva de André Bocatto, discente de Matemática da UFU  e bolsista orientador do projeto, a pesquisa na Universidade e na escola de educação básica seguem trajetórias distintas. “Eu vejo que aqui o interesse é muito maior, porque você tá guiando seu próprio conhecimento e não seguindo um roteiro que já está pré estipulado”, ressalta o estudante.  Boccatto ainda agradece por presenciar os dois lados da pesquisa: “eu já vi um lado e achei que era uma coisa. Cheguei aqui e vi que é totalmente outra e estou aprendendo agora o que é pesquisar”.

 

Objetivos

 

O objetivo maior do projeto é a formação de qualidade de seus alunos. Junto a isso, o poder de conscientização para mudanças, considerando a tematização da “sustentabilidade”. Raquel Machado, professora coordenadora do projeto, acredita que trabalhos como este introduzem nos alunos a importância de incorporar ações no dia-a-dia que modifiquem a realidade do amanhã. “Nós conseguimos que entendam o conceito de sustentabilidade e percebam a responsabilidade que nós temos atualmente e também com as gerações futuras”, enfatiza.

 

Agência Conexões
agenciaconexoes@gmail.com
No Comments

Post A Comment