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Preço da carne bovina sofre alta de 29,5%, segundo IBGE


Nos últimos 12 meses, o preço da carne bovina registrou alta de 29,5%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). A pesquisa, que mede a inflação oficial do país, é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e já havia registrado elevação de 18% da carne ao longo de todo ano de 2020.

Quando comparados os diferentes tipos de carne, é possível  observar um aumento maior da carne de segunda, como músculo e costela, em relação a carnes de primeira. Segundo o economista, professor e pesquisador, Bruno Perosa, os preços são impactados tanto pela demanda do mercado pelo produto, quanto por fatores que alteram a sua produção.

Em relação à demanda internacional e doméstica do mercado de carnes bovinas, Perosa destaca três fatores principais: o câmbio, a influência do mercado chinês e o auxilio emergencial.  O câmbio está desvalorizado no Brasil devido a baixa taxa de juros Selic, que atualmente está em 2% ao ano. “Muitos investidores não vêem mais o Brasil como um país que vai melhorar nos próximos anos”, explica o economista. Essa baixa afeta os investimentos financeiros, atraindo pouco capital externo e mantendo o dólar alto, o que incentiva a exportação da carne e limita a oferta de produtos no mercado interno. “O Brasil deve ter sido um dos países que mais teve uma desvalorização cambial ao longo da pandemia, por vários motivos. Há uma tendência na história da economia brasileira: quando há grande desvalorização cambial os produtos são mais direcionados para exportação e não ficam tão disponíveís no mercado interno”.


O aumento da criação do gado em confinamento provoca o encarecimento da carne.

O segundo fator relacionado à demanda de mercado é a influência do mercado chinês. Em 2018, houve um surto de peste suína na China — que possuía a principal demanda de produtos agrícolas — e fez com que o país substituísse a produção de carne suína pela bovina. Atualmente, a China adquire elevados volumes de carne e representa “um mercado que faz muita diferença quando você vê a balança de oferta e demanda internacional”.Perosa menciona, ainda o auxílio emergencial como fator de impacto na demanda, especialmente para explicar o aumento de 17,97% de consumo doméstico de carnes em geral, além da alta de preços mais acentuada na carne de segunda. Com o início do pagamento do auxílio, algumas parcelas da população que consomem mais carnes de segunda ampliaram seu poder de compra, aumentando a demanda. Paralelo a isso, muitos outros consumidores deixaram de comprar carne de primeira devido à alta dos preços, o que provocou um aumento maior da carne de segunda em relação à de primeira.

A  produção de carne bovina também influenciou o aumento de preços por alguns fatores. ,Desde o ano passado a seca compromete a pastagem e também as a.  plantações de alimentos como soja e milho, utilizados nas rações do gado, consequentemente, sofrendo aumento de preço. Bruno Perosa menciona ainda o processo de renovação de rebanho, que separa as fêmeas para a reprodução, diminuindo a quantidade de gado disponível para o abatee a tendência de utilizar o confinamento do boi antes do abate. Essa técnica, conforme o pesquisador, tem um custo mais alto para os produtores, logo, contribui para ampliação do preço de venda também. “Pesquisas mostram que o setor pecuário, cada vez mais, está terminando o gado em confinamento e não a pasto, e o resultado dessa opção é um encarecimento”.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou que do ano de 2019 para 2020 houve a diminuição da venda da carne em 5%, caindo de 30,7 quilos para 29,3 quilos por pessoa. Há também a redução do auxílio emergencial neste ano de 2021 e, consequentemente, a diminuição do poder de compra por parte da população.

Mariana Palermo
mariana.palermo@ufu.br
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