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Psicóloga, mulher e negra

 Laila Rezende em sua palestra, que ocorreu na Universidade Federal de Uberlândia | Foto: Prisciele de Melo Laila Rezende é mulher e negra. Apenas com essa pequena descrição já é possível imaginar que, ao longo de seu desenvolvimento, ela acabou enfrentando diversas formas de preconceito. Contudo, ela representa uma pequena parcela da população negra que teve acesso ao ensino superior. 

Foi aprovada no ano de 2008, no curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Segundo ela, não havia nenhum motivo especial para a escolha do curso, porém ao longo da graduação acabou se apaixonando e hoje não se vê fazendo outra coisa. Entretanto, mesmo estando em um universo que deveria não apresentar nenhuma forma de preconceito, quando foi ao banheiro, Laila encontrou a seguinte frase “Fora macacos cotistas”. Laila pagava o curso de forma integral.

 

Diante desse acontecimento e da falta de políticas públicas voltadas para a saúde mental da população negra, ao se formar, acabou direcionando seu trabalho para essa área com  foco especial à mulheres negras, como por exemplo, a psicoterapia individual,  e rodas de conversa. Essa característica acabou sendo um diferencial em sua carreira profissional, já que ao longo de sua graduação ela percebeu que havia uma déficit no atendimento a esse público.

 

Dessa forma, ela consegue suprir essa demanda de atendimento especializado que ainda falta no mercado de trabalho. “quando a pessoa chega em meu consultório e vê que vai ser atendida por uma mulher negra, ela acaba se identificando e consequentemente se sentindo mais à vontade”, pois Laila sabe o que é viver em uma sociedade que ainda é predominantemente racista.

 

Em seu blog[a], ela relata num artigo  denominado “Miserabilidade e Negritude em ascensão” a ascendência da população negra: “Esse negro em ascensão causa desconforto não apenas na branquitude, mas também entre os próprios negros. Isso acontece porque a maioria de nós, pessoas negras, ainda não consegue ocupar lugares de destaque. Não por falta de esforço, mas por sermos fruto de uma sociedade capitalista e racista que se sustenta através da diferença, da segregação, da valorização de um grupo de pessoas em detrimento de outro”Desse modo, Laila aborda a questão racial, na visão de uma pessoa negra e discute assuntos importantes que devem ser repensados.

 

Em sua palestra realizada no último dia 16, com o tema “Psicologia e relações sociais: um olhar feminino da violência cotidiana do racismo”, ela abordou diversos problemas pessoais que ocorreram com ela e que, muitas  vezes, acabam sendo semelhantes com o de outras pessoas. Uma das discussões abordadas na palestra é sobre as cotas raciais e a permanência do jovem negro na universidade. “As cotas raciais são minimamente uma reparação histórica, que eu acredito que deve ter um prazo, como toda política pública. Se nossos governantes começarem a olhar com mais carinho desde a educação infantil, visto que não adianta eles repararem quando os jovens já estiverem na universidade, uma vez que se tem uma educação deficiente desde o ensino básico”, afirma a psicóloga.

 

Além disso, Laila comenta que não basta haver um sistema de cotas se o estudante não terá possibilidades de se manter ao longo do curso. Pois este sujeito enfrenta não apenas dificuldades para permanecer no curso, mas também entesta o racismo e seus desdobramentos.

 

Por fim, ela acabou mostrando que superou a maioria dos problemas que enfrentou ao longo de seu crescimento e, como consequência, tem  a oportunidade de ajudar as pessoas que mais precisam de auxílio psicológico.

 

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