23 nov Psicóloga, mulher e negra
Foi aprovada no ano de 2008, no curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Segundo ela, não havia nenhum motivo especial para a escolha do curso, porém ao longo da graduação acabou se apaixonando e hoje não se vê fazendo outra coisa. Entretanto, mesmo estando em um universo que deveria não apresentar nenhuma forma de preconceito, quando foi ao banheiro, Laila encontrou a seguinte frase “Fora macacos cotistas”. Laila pagava o curso de forma integral.
Diante desse acontecimento e da falta de políticas públicas voltadas para a saúde mental da população negra, ao se formar, acabou direcionando seu trabalho para essa área com foco especial à mulheres negras, como por exemplo, a psicoterapia individual, e rodas de conversa. Essa característica acabou sendo um diferencial em sua carreira profissional, já que ao longo de sua graduação ela percebeu que havia uma déficit no atendimento a esse público.
Dessa forma, ela consegue suprir essa demanda de atendimento especializado que ainda falta no mercado de trabalho. “quando a pessoa chega em meu consultório e vê que vai ser atendida por uma mulher negra, ela acaba se identificando e consequentemente se sentindo mais à vontade”, pois Laila sabe o que é viver em uma sociedade que ainda é predominantemente racista.
Em seu blog[a], ela relata num artigo denominado “Miserabilidade e Negritude em ascensão” a ascendência da população negra: “Esse negro em ascensão causa desconforto não apenas na branquitude, mas também entre os próprios negros. Isso acontece porque a maioria de nós, pessoas negras, ainda não consegue ocupar lugares de destaque. Não por falta de esforço, mas por sermos fruto de uma sociedade capitalista e racista que se sustenta através da diferença, da segregação, da valorização de um grupo de pessoas em detrimento de outro”Desse modo, Laila aborda a questão racial, na visão de uma pessoa negra e discute assuntos importantes que devem ser repensados.
Em sua palestra realizada no último dia 16, com o tema “Psicologia e relações sociais: um olhar feminino da violência cotidiana do racismo”, ela abordou diversos problemas pessoais que ocorreram com ela e que, muitas vezes, acabam sendo semelhantes com o de outras pessoas. Uma das discussões abordadas na palestra é sobre as cotas raciais e a permanência do jovem negro na universidade. “As cotas raciais são minimamente uma reparação histórica, que eu acredito que deve ter um prazo, como toda política pública. Se nossos governantes começarem a olhar com mais carinho desde a educação infantil, visto que não adianta eles repararem quando os jovens já estiverem na universidade, uma vez que se tem uma educação deficiente desde o ensino básico”, afirma a psicóloga.
Além disso, Laila comenta que não basta haver um sistema de cotas se o estudante não terá possibilidades de se manter ao longo do curso. Pois este sujeito enfrenta não apenas dificuldades para permanecer no curso, mas também entesta o racismo e seus desdobramentos.
Por fim, ela acabou mostrando que superou a maioria dos problemas que enfrentou ao longo de seu crescimento e, como consequência, tem a oportunidade de ajudar as pessoas que mais precisam de auxílio psicológico.
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