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Reforma, a palavra chave do governo Temer chega na educação

No começo desse mês, o Ministério da Educação (MEC) apresentou a terceira e última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino infantil e fundamental. O documento contém 396 páginas e tem como slogan “a educação é a base”. Ao ler isso, me vem na cabeça: será que em meio a retrocessos, como reforma da previdência, lei de terceirização, teremos um avanço nesse governo Temer?

 

Ensino infantil e fundamental também sofrem mudanças. | Foto: Freepik

 

Sabe aquele papo de que o Estado é laico? O governo parece ter entendido, pelo menos em partes. No novo documento, a matéria de Ensino Religioso foi excluída da lista de áreas a serem estudadas no ensino infantil e fundamental. A ação já era sem tempo, uma vez que grande parte do conteúdo abordado nas aulas era predominantemente advindo do catolicismo, excluindo outras manifestações religiosas do currículo.

 

Outro ponto importante, é que, no texto, o MEC afirma que defende o “respeito à pluralidade”, mas exclui abordagens que esclareçam toda a temática sobre gênero. Ora, então é preciso abrir o dicionário e rever os significados de respeito e pluralidade. O que falta nas propostas do MEC é coerência e uma análise mais aprofundada do momento repleto de transformações que estamos vivendo. Matemática e Linguagens são sim fundamentais para a base curricular de crianças e jovens, mas  também é necessário tratar de forma contundente outras temáticas sensíveis aos direitos humanos, como diversidade e cidadania.

 

Já questões como educação sexual, doenças sexualmente transmissíveis e métodos de prevenção só irão ser abordadas no oitavo ano, quando os alunos têm, em média, 13 anos de idade. Tal fato é preocupante, pois segundo a pesquisa “Durex Global Sex Survey”, os jovens começam a ter vida sexual aos 13 anos. Sendo assim, seria necessário tratar dessas temáticas mais cedo, para que os estudantes possuam instrução sobre o assunto antes mesmo de darem início às suas vidas sexuais. Além disso, casos de infecções por HIV, por exemplo, subiram 11% na faixa etária de 15 a 24 anos. Tal dado reforça a necessidade de orientar e conversar com os estudantes sobre a realidade em que os mesmos vivem e que estão sujeitos a enfrentar.

 

Além do mais, o aluno precisará desenvolver competências durante a aprendizagem, como “utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética”. Por um lado, é um avanço, pois sairemos da forma arcaica de ensino à base de quadro e giz e usaremos a tecnologia ao nosso favor. Porém, isso exige uma preparação dos professores, o que parece não ser um dos focos de investimento do governo – pelo menos a médio prazo. Então, de que adianta dispormos de tecnologia sem os meios necessários para usá-la de forma produtiva?

 

Reformas são necessárias e o amadurecimento de ideias deve ser visto com bons olhos. Entretanto, é preciso, de antemão, escutar os professores, ouvir suas demandas e capacitá-los para possíveis mudanças, seja no âmbito do conteúdo ou do ensino. É necessário acompanhar as mudanças sociais e culturais, abandonar a educação conservadora e falar de assuntos que precisam ser discutidos o quanto antes com os jovens. Se a educação é a base, como diz o atual governo, vamos lembrar de Paulo Freire e pensar  nela como forma de liberdade, para que o oprimido não seja opressor.

 

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