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Sem verbas para pesquisa, docente não vê esperança no cenário atual

Karol Cardoso e Caio Roberto

Pesquisador que já tirou do próprio bolso para manutenção da pesquisa, Claudio Vieira, hoje com 42 anos, vê o futuro da pesquisa ameaçado. O imunologista, que pesquisa a proteína do agente causador da Doença de Chagas, foi afetado pelos cortes que atingem as instituições federais de ensino brasileiras.

Odontólogo por formação, pesquisador por satisfação e pai de dois chihuahuas por amor, frequentou uma escola que se estruturou com a doação do terreno do seu pai à prefeitura e cresceu a 48km de Araguari, no distrito de Barracão, zona rural. Cercado pela natureza, seus primeiros experimentos envolviam saracuras, galinhas e gambás. “O interesse pela ciência foi desde criança e essa é uma parte ótima que eu adoro”, lembra. O pequeno tentava criar filhotes e chocar ovos quando as mães se ausentavam e bancava o veterinário quando algum animal morria.

Com o passar dos anos, e o insucesso das experiências, o caçula foi o último a sair da fazenda e migrar para a cidade para concluir os estudos, assim como fizeram seus irmãos. Na graduação, cursou odontologia, apesar de nunca ter se identificado com o curso, feito pela insistência do pai. Seguiu na carreira acadêmica com o saudosismo dos tempos de pesquisador mirim e ingressou no mestrado em Imunologia e Parasitologia Aplicadas na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Continuou sua pesquisa nas Universidades Yale e Federal de São Paulo, na qual concluiu seu pós-doutorado.


Laboratório 2B, onde é realizada as pesquisas do imunologista Claudio Vieira, no campus Umuarama | Créditos: Arquivo Pessoal

De volta às origens, hoje é professor da graduação, mestrado e doutorado na UFU onde iniciou os estudos em imunologia há uma década. Anos atrás, recorreu à empresas para tentar estabelecer parcerias com a instituição pública, a tentativa frustrada fez com que buscasse financiamento, causando uma grande bola de neve financeira e ocasionando seu endividamento para conseguir manter as pesquisas em andamento. Com os cortes, sem receber por projetos que já foram aprovados, Claudio sente os impactos não apenas em suas pesquisas, mas em seu psicológico, quando vê seu trabalho e ambiente de trabalho sendo desvalorizados e não vê esperança, por ora, no cenário atual.Com a paralisação de um dos tripés da universidade, Claudio continuará apenas na docência, buscando aplicar conceitos vistos na pesquisa, campo que ocupou grande parte de sua vida profissional e pessoal ao longo da vida e que trouxe ótimos resultados e reconhecimento, como publicação em revistas internacionais, como a Scientific Reports, considerada a maior do mundo em 2017. “Por mais que a gente tenha dinheiro pra financiar a pesquisa, se você não tiver dinheiro pra financiar a permanência do aluno, você sozinho não consegue fazer pesquisa”, lamenta. Na visão do pesquisador, “o impacto desses cortes vai acontecer em 2020, 2021”, quando os relatórios e resultados não mais forem publicados.

Agência Conexões
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