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Stephen Hawking e os desafios de fazer ciência no Brasil

Além de atestar a singularidade em colapso gravitacional, Hawking estudou sobre a mecânica dos buracos negros até compreender que estes podem irradiar calor e desaparecer – o que contrariava grande parte dos estudos científicos até então. | Foto: HypeScience

Galileu Galilei tornou-se um dos maiores físicos que a História conheceu ao inaugurar o método experimental e, claro, sustentar que era o Sol o corpo celeste que centralizava o universo. Mais de trezentos anos depois, também ganhou essa titulação o alemão Albert Einstein, criador da teoria da relatividade e estudioso da luz. E, entre o aniversário de morte de um e o aniversário de nascimento de outro – o que conduz a um humor memorável – existiu Stephen Hawking, o pesquisador que revolucionou a Ciência moderna e trouxe numerosas contribuições à Humanidade.

Além de atestar a singularidade em colapso gravitacional, Hawking estudou sobre a mecânica dos buracos negros até compreender que estes podem irradiar calor e desaparecer – o que contrariava grande parte dos estudos científicos até então. Sustentou também que as flutuações quânticas, durante a inflação, podem ter dado lugar à propagação de galáxias do universo; e que a função da onda no universo, criada por ele, poderia ser usada para calcular as propriedades do universo que vemos ao nosso redor. Isso tudo e mais um pouco sem deixar-se confrontar pela doença degenerativa que descobriu em si aos 21 anos e que o acompanhou durante grande parte de sua vida, a denominada ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica).

Mas a discussão proposta hoje ganha outros vieses: como se dariam as contribuições científicas de Galilei, Einstein e Hawking caso estes não tivessem sido estimulados e apoiados academicamente? Claro, no século XVI Galilei foi perseguido pelo catolicismo ortodoxo que o acusava de heresia por contrariar aos padrões bem delineados da Igreja; e Einstein, além de ser rejeitado ao cargo de professor universitário, sofreu uma violenta campanha de calúnias durante a ascensão do nazismo. Hawking só conseguia mexer os olhos e utilizava um sintetizador de voz para falar. Nenhum deles, no entanto, passou pelas dificuldades enfrentadas no Brasil: quinhentos anos depois do nascimento de Galilei, ainda sofremos com a falta de recursos, a burocracia, os cortes orçamentários e o mínimo incentivo.

Segundo a Nature Index, ranking que se constitui de um conjunto de artigos científicos publicados anualmente num seleto grupo de jornais de alta qualidade, o Brasil ocupa a 24ª posição no que concerne à produção de artigos, correspondendo a 3% da produção mundial. Uma porcentagem tão baixa tem motivos para configurar-se assim: de acordo com Alexander Birbrair, Carlos Kiffer e Marcos Eberlin, cientistas entrevistados pela LabNetwork em 2016, as principais reclamações resumem-se à falta de investimento, ao bloqueio da criatividade em decorrência dos trâmites burocráticos, à falta de políticas nacionais amplas para investimento em inovação, à qualidade e velocidade de entrega de produtos solicitados e, ainda, à discriminação às ciências praticadas em países do terceiro mundo, vistas frequentemente com restrição.

Já dizia às revistas Exame e Galileu a cientista Suzana Herculano-Houzel – a mesma que decidiu sair de seu posto de trabalho, resumido a uma escrivaninha, na UFRJ; e desenvolver seus trabalhos na Universidade Vanderbilt, em Nashville, onde tem um laboratório com quatro bancadas, duas salas de microscopia, uma sala para os freezers, outro com microondas e impressoras, uma câmara fria e um laboratório quatro vezes maior –: “a ciência no Brasil é a ciência que cabe no orçamento”. Isso, claro, não resume uma política de investimento em ciência. Através do sucateamento do sistema educacional pelo governo militar e pela corrupção, somado à visão de curto prazo, a ciência não ganha votos no nosso país.

Mais uma vez, os sucateamentos advindos do governo Temer retardaram o processo científico do país; entretanto, ainda há esperança. Na opinião de Kiffer, uma boa proposta para o momento atual seria a definição de uma política nacional de fomento à ciência e à pesquisa de longo prazo. “Isto significa que esta política deveria começar fomentando a educação científica na base e seguindo até o topo das instituições acadêmicas e das empresas, com estímulos e apoios duradouros à inovação e à ciência”, conclui. Nos últimos anos, o Brasil aprimorou seu parque tecnológico, formou mais mestres e doutores e ampliou suas universidades. Ao ponto em que chegamos, há de se dizer que muito já foi conquistado.

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