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Telecentro da Biblioteca está sem cursos gratuitos

Falta de cursos diminui a quantidade de usuários no Telecentro. Foto: Isabella Rodrigues

Foram três visitas da nossa reportagem e o cenário era praticamente o mesmo em todos os momentos: muitos computadores disponíveis em uma sala quase sem gente. Esse é o panorama do telecentro da Biblioteca Municipal, que além de disponibilizar o acesso de computadores conectados a internet, tinha a proposta de oferecer cursos gratuitos à distância e profissionalizantes à população. Entretanto, há mais de um ano os cursos pararam de ser ofertados, e a sala que antes ficava cheia, atualmente recebe poucos usuários que só utilizam a internet e os programas básicos.

Em Uberlândia, existem 28 telelecentros, que em sua maioria funcionam dentro de localidades de ensino, como as Escolas Municipais. Um dos maiores destaques no início de sua criação foi o da Biblioteca, que é aberto ao público em horários alternados (das 8:15h ás 18h)  e ainda tinha o chamariz dos cursos EaD, que propiciavam o aprendizado e a autonomia dos alunos.

FIM DO FUNCIONAMENTO

Segundo Denise Carvalho, administradora da Biblioteca, a construção dos telecentros na cidade faz parte do programa “Digitando o Futuro”, que começou em 2008 com uma iniciativa da Prefeitura em parceria com uma empresa de cursos profissionalizantes de Brasília e com a Faculdade Politécnica de Uberlândia (FPC). “Nós fomos presenteados com um telecentro aqui, por parte da Secretária de Educação que administrava esses espaços. Eles deram tudo pra gente: os computadores, armários, móveis e também o pacote de cursos EaD”, afirma Denise. Dentre os vinte computadores disponibilizados, dez eram para o acesso a internet e o restante para os cursos, que incluíam diversas modalidades de informática, contabilidade, línguas, meio-ambiente, legislação e outros.

Em 2013, após o fim do contrato com a empresa que oferecia os cursos, tanto a Secretaria de Educação, responsável pelos telecentros da cidade, quanto a Secretaria de Cultura, que cuida da Biblioteca Municipal não renovaram a pareceria. “Nesse momento ainda conseguimos uma doação de outra empresa de São Paulo. Eram somente cursos de informática e um de português, que durou um ano porque o contrato com a Secretaria de Cultura também terminou”, conta a administradora. A procura pelo projeto era grande, afirma Denise, pois o nível dos cursos era bom e dava a oportunidade para as pessoas se aprimorarem em diferentes áreas. “Teve gente que fez mais de 20 cursos na época e muitos alunos ainda ligam pra gente perguntando quando as aulas vão voltar”, ressalta.

SEM PREVISÕES

Liliany Santana, assessora administrativa da Secretaria de Cultura, pontua que desde quando a nova gestão assumiu a prefeitura de Uberlândia em 2013, os cursos gratuitos já não eram mais oferecidos. “Houve realmente um corte de orçamento. Hoje o usuário da Biblioteca tem acesso a internet, mas infelizmente não tem mais acesso a esses cursos”.

A assessora explica que, para projetos como esse continuarem existindo, é preciso haver uma previsão orçamentária, que nesse caso não foi liberada até hoje para a Secretaria de Cultura. Liliany ressalta que os cursos não voltarão a ser ofertados esse ano, já que “no orçamento do ano passado, não se conseguiu a verba necessária”.

ALUNOS

Ana Maria Vilela, uma das encarregadas do telecentro, fez parte da implantação do projeto “Digitando o Futuro” na Biblioteca Municipal e conta que os cursos melhoraram a vida de muita gente, “principalmente a terceira idade, porque às vezes a família não tem muita paciência pra ensinar e eles acabam tendo muita vontade de se comunicar com quem está longe”. Além disso, os cursos acabavam sendo uma motivação para esses idosos, que segundo Ana Maria, acabavam fazendo amigos naquele espaço. “Eles falavam que aqui era uma terapia, já que dávamos atenção e tínhamos essa paciência para ajudar, porque é como gostaríamos que ensinassem os nossos pais (…). Eu acredito que [o projeto] faça muita falta pra eles”, diz a encarregada. Para ela, a procura pelos serviços do telecentro enfraqueceu em razão do término dos cursos. “Diminuiu muito e em tudo, porque como eles não vêm a manutenção também caiu e todo o projeto se desfez. É uma perda irreparável”, finaliza.

Anália Spirandelli, 65, aprendeu desde ligar o computador até mandar e-mails para os parentes distantes. Ela fez o curso de informática por cerca de dois meses junto com o marido, Antônio Rodrigues, mas conta que “um pouco depois de começarmos já pararam de oferecer [os cursos]. Aí eu acabei perdendo o interesse e, hoje, nem mexo mais”.

Élcio Dias, 54, também fez dois meses de informática, mas acabou parando porque os horários não batiam com o do seu trabalho. “Aprendi de tudo um pouco, mas tive que parar. Foi bem útil na época porque eu não tinha como pagar pra aprender. Hoje já comprei meu computador e consigo fazer muita coisa nele”, explica.

Alguns alunos continuam frequentando o telecentro porque ainda não têm acesso fora dali, como é o caso de Helena Aparecida da Silva, que é professora e usa o computador para preparar suas aulas. “Na escola que eu dou aula, o acesso aos computadores é muito concorrido, então eu prefiro vir aqui que o ambiente é mais tranquilo”. Helena completou o curso de informática, mas não chegou a concluir o de inglês devido o encerramento dos cursos. “Quando acabou não dei continuidade. Se conseguisse seria melhor ainda para aprimorar os conhecimentos, né? Espero que retorne algum dia”, conclui a professora.

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