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Transição agroecológica reinventa a economia e a sustentabilidade

Por Beatriz Ortiz e Tuila Tachikawa

“A agroecologia é muito mais do que uma ciência. É um movimento político”, diz Cristiane Betanho, coordenadora do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica da Universidade Federal de Uberlândia (NEA/UFU). Mas… agroecologia? O que é isso?

Em termos simples, agroecologia é a proposição de novas relações entre os humanos e a terra. O técnico agroecológico Felipe Tavares explica um pouco melhor: “num planeta onde reina a monocultura e a exploração de terras viciadas, a agroecologia vem como uma alternativa ao agronegócio e como um potencial transformador do sistema político, econômico e socioambiental”. Há anos, ele acompanha Betanho na jornada de promover a transição agroecológica para trabalhadores rurais.

O produtor José Rubens Laureano é um destes trabalhadores. Depois de migrar para o campo em busca de outro estilo de vida e se tornar um produtor agroecológico, ele percebeu que a agroecologia também é uma maneira de viver. “Estamos em simbiose com a natureza”, declara ele, “temos que entender que fazemos parte dela e dessa forma fazer nossa parte para que o sistema funcione”.

A transição é apenas um dos passos de um grande projeto: a Feirinha Solidária. A feira põe em prática a economia popular, estabelece novas relações com o meio ambiente e emancipa trabalhadores rurais. “A agroecologia enaltece o trabalho do produtor rural, do camponês, do indígena, para que todos eles agreguem o valor do seu trabalho para si, em vez de vendê-lo para os donos dos meios de produção”, ressalta Betanho.

História de resistência

A Feirinha Solidária acontece todo sábado, das 8h às 12h, no Centro de Convivência da UFU, campus Santa Mônica. Ela é uma iniciativa do Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários (CIEPS). Nascido em 2008, o CIEPS mantém a proposta de promover a economia popular em Uberlândia por meio da transição agroecológica. A ideia é valorizar o trabalho humano, buscar um relacionamento respeitoso com a natureza, reconhecer o lugar da mulher na economia e atender às necessidades do povo frente à atividade econômica. Tudo de uma vez só!

Para conseguir tudo isso, o primeiro passo do CIEPS foi institucionalizar o Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica (NEA). O NEA desenvolve um projeto de transição agroecológica em parceria com camponeses e agricultores de todo o Brasil.

Betanho conta como aconteceu esse projeto. “Num primeiro momento, todos os interessados participaram de rodas de conversa sobre a transição para a agroecologia e, depois, fizeram cursos práticos no campo”, afirma. “O próximo passo foi o acompanhamento da transição pelos agricultores, tudo com a supervisão dos técnicos. Só aí começamos a comercialização dos produtos na Feirinha Solidária”.

Todos os meses, os técnicos ambientais acompanham a transição agroecológica junto com os produtores. Foto: Beatriz Ortiz.

Todo o processo foi baseado no conceito de sustentabilidade. São as relações da terra com o agricultor, do agricultor com o comprador e do comprador com a economia popular solidária. Uma “nova” forma de relacionar produção orgânica, força de trabalho e vínculo produtor-consumidor.

Por causa do projeto do NEA, os produtores rurais passaram a se organizar em associações e tornaram-se independentes financeiramente. Hoje, eles fornecem à sociedade um alimento orgânico de qualidade, sustentável, a um preço acessível. “E mais…”, complementa Betanho, “mostram seus rostos, sem desaparecer em meio à uma cadeia enorme de produção industrial”.

Mas o modo de produção ainda não concorda com Cristiane Betanho. A agricultura tradicional é a menina dos olhos no que tange às transações econômicas e aos plantios que justificam o desmatamento de diversas áreas verdes. É, acima de tudo, vendida  para a população como “Agro é pop, Agro é Tech, Agro é Tudo”. “Agro” – terreno cultivado ou potencialmente cultivável – é sim, tudo, mas pode buscar equilíbrio com o resto do ecossistema.

Hoje, o NEA oferece cursos não apenas para os produtores, mas também para os compradores. Um dos principais é o “Você no campo”, em que os inscritos frequentam por dois dias o ambiente de plantio para conhecer e entender a transição agroecológica. Mais informações podem ser conferidas no site: http://www.ie.ufu.br/node/213.

 

 

Tuila Tachikawa
tutachik@gmail.com
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