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Tratamento precoce: um símbolo da politização acima de tudo

No dia 25 de abril de 2021, a Farmácia Regional do SUS de Uberlândia  não possuía mais Hidroxicloroquina disponível para pacientes com lúpus, doença para a qual o medicamento é usado como tratamento. Ao mesmo tempo, a droga estava sendo produzida pelo Laboratório Militar das Forças Armadas no Brasil e indicada para o tratamento precoce de covid-19 por autoridades políticas, como o presidente Jair Bolsonaro, mesmo quando a OMS se posicionava fortemente contra o uso do medicamento. Esse comportamento revela irresponsabilidade dos governantes tanto com quem está fazendo o tratamento precoce para covid-19, quanto com quem precisa da medicação para tratar outras doenças. 

Na cidade de Uberlândia, pacientes com doenças crônicas que precisam de remédios caros podem receber seus medicamentos no SUS, mediante cadastro na Farmácia Regional (Av. Belo Horizonte, 1084). Eu, uma portadora de lúpus, faço tratamento com a droga há cinco anos, e há um ano recebo o medicamento na Farmácia Regional. Quando o tratamento precoce para Covid-19 se popularizou, passou a ser necessário um receituário especial para eu conseguir o remédio. Agora, pela primeira vez neste período, o medicamento estava em falta, e, quando a última cartela acabar, vou ser obrigada a interromper o tratamento temporariamente. 

Paralelamente, o município oferece tratamento precoce para covid-19 gratuito no SUS. O prefeito Odelmo Leão, apoiador de Bolsonaro, afirmou em post nas redes sociais, no dia 30 de junho de 2020, que “já está disponível hidroxicloroquina e ivermectina tanto para receitas públicas quanto privadas, nas farmácias da rede municipal”. Desde então, a rede pública continua disponibilizando o tratamento. 

Contudo, este é um comportamento problemático. A farmacêutica americana Merk, fabricante da Ivermectina, afirmou no início de fevereiro que o medicamento não é comprovadamente eficaz contra a covid-19. Além disso, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não recomenda nenhum tipo de tratamento precoce contra a doença. Adiciona-se também o fato de que esses medicamentos podem trazer efeitos colaterais para seus usuários, ao invés de bons resultados. 

Fica claro um comportamento irresponsável e de interesse unicamente político das autoridades que indicam o tratamento precoce para a covid-19. Esses medicamentos não têm eficácia comprovada contra a doença e, para as enfermidades que realmente são necessários, estão em falta. Por outro lado, enquanto a população acredita que está protegida tomando hidroxicloroquina, continua existindo coragem para sair de casa, ir para o trabalho e movimentar a economia.

Milena Felix
milenafelix12@outlook.com
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