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Uberlandenses se mobilizam em ato contra os cortes nas universidades federais

Por Fernanda Neves e Jhenifer Gonçalves

Estudantes, professores, militantes de organizações políticas e trabalhadores se reuniram na Praça Ismene Mendes (antiga Tubal Vilela), em Uberlândia, na última terça-feira (18), para realizar um ato que questionou o corte de verbas destinadas às universidades e institutos federais. Convocado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a “Aula na Praça” pretendia mostrar à população o impacto das ações da universidade na comunidade. 

Com cartazes, músicas e oficinas, o desafio dos estudantes foi levar a reivindicação para outros setores da sociedade e garantir a adesão do movimento. Essa realidade não se restringe a essa manifestação, visto que a organização estudantil já realizou outros atos na cidade e buscou levantar pautas que contemplam, principalmente, os trabalhadores de diferentes segmentos, a fim de aumentar o engajamento das manifestações. 

Amanda de Castro, de 23 anos, é aluna do curso de Relações Internacionais na UFU, coordenadora do DCE e militante do Levante Popular da Juventude. O movimento estudantil, para ela, tem um papel crucial no desenvolvimento democrático e político do país. “Pedimos por mais educação e saúde, essas sempre foram as nossas pautas. Mas não podemos restringir isso à universidade e, por isso, viemos dialogar com o povo”, explica. 

A estudante conta, ainda, que levar informação aos trabalhadores também é uma prioridade do movimento e que o diálogo deve ser fomentado para além da academia. Durante o ato, foram distribuídos panfletos e jornais informativos, nos quais pautas referentes à saúde, educação, desemprego e outros direitos fundamentais são discutidos. Amanda também explicou que o local e o horário escolhidos para realizar a manifestação foram pensados para reunir mais pessoas e chamar atenção de quem passava pelo centro da cidade.

O momento de fala, onde os representantes de cada partido ou grupo seguem para o centro da praça e conversam diretamente com a população, também é importante para a jovem. “É a nossa principal forma de diálogo, porque ecoa pela praça inteira e as pessoas interessadas podem entender o que está acontecendo”, afirmou. 

Domingos Gonçalves, de 41 anos, foi um dos curiosos que se aproximou da concentração na Praça Ismene Mendes e registrou o momento com fotos e vídeos. O trabalhador disse que o trabalho e a falta de tempo impedem que ele participe das manifestações, mas considera a união estudantil e de outros setores muito importante para a democracia. Ele também comentou sobre a escolha do horário e do local do ato: “Ser aqui na praça é bem fácil para chamar atenção, o pessoal está saindo do serviço e pode se reunir, ficar um pouco”. 

O movimento estudantil 

A história da União Nacional dos Estudantes, criada em 1937 no Rio de Janeiro, registra que o movimento estudantil no Brasil passou a ser discutido a partir de 1901, com a formação da Federação dos Estudantes Brasileiros. Durante o século XX, alunos e outros setores engajados da sociedade lutaram, entre outras pautas, pela qualidade do ensino, contra o facismo na Segunda Guerra Mundial, pela defesa do petróleo do país e ampliação do acesso à educação superior. 

Já no século XXI, a UNE e organizações estudantis regionais atuam pela valorização e mais investimento público na educação, cultura, ciência, esporte e tecnologia. O movimento dos estudantes também passou a defender a necessidade de criar reivindicações específicas para determinados grupos sociais e, por isso, há organizações voltadas para pessoas negras, mulheres, integrantes da comunidade LGBTQIA+ e outro.


Infografia: Fernanda Neves e Jhenifer Gonçalves

Nos últimos anos, o movimento estudantil protagonizou atos em todo o país contra cortes na educação, principalmente em universidades e institutos federais. Por meio da UNE, as manifestações são marcadas em um mesmo dia e procuram englobar pautas que atingem outros setores da sociedade, como os trabalhadores. 

O ato realizado na última terça-feira não foi diferente das últimas ações propostas pela UNE. A manifestação foi protagonizada por estudantes de diferentes vertentes e instituições políticas. João Vitor Antônio Rocha, de 19 anos e Guilherme Luís Carraro dos Santos, de 20 anos, são militantes ativos da União da Juventude Comunista (UJC) que é veiculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), e estavam presentes na movimentação. 

Os jovens que também são discentes da UFU, apontaram  a importância dos atos estudantis para a mobilização popular e o vínculo do partido que participam com as ações. “A união da UJC com o movimento estudantil é antiga, com cerca de noventa anos de história. Foi uma das principais organizações responsáveis por fundar a UNE”, afirmou João Vitor. 

Para os estudantes, os tensionamentos provocados nas ruas e em locais de destaque da cidade, são importantes para a incorporação dos trabalhadores na ação: “Um dos principais pontos [das manifestações] é fazer pressão pelas vias populares nas ruas. O fato de existir uma organização que mobiliza as pessoas já prova a sua importância”, explicou Santos.

Mobilização que ultrapassa gerações

O ato realizado em Uberlândia contou com o engajamento de pessoas que trabalham na área da educação, envolvidas em partidos políticos, participantes de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e professores. Essa parcela da sociedade é atraída pela organização dos jovens e aproveitam para apoiar as causas defendidas e apresentar reivindicações próprias do determinado grupo. 

Elaine Cristina Ribeiro, trabalha na educação há 40 anos e é filiada ao Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE). Ela explicou que participa dos atos sempre que pode e que durante essas quatro décadas militou por melhorias na educação e pela garantia de direitos dos estudantes, professores e mulheres. Ribeiro destacou a importância da manifestação ocorrida no dia 18: “Nós adoramos isso [atos organizados pelos estudantes em prol da educação], porque precisamos da sucessão. Já participamos da liberação sexual e outros movimentos que nos fizeram chegar até aqui. Agora precisamos da juventude para continuar”. 

A trabalhadora da educação comentou sobre a participação dos jovens na política, enfatizando a capacidade de diálogo e mobilização deste grupo. Segundo Elaine, o engajamento dessa faixa etária foi responsável por eleger candidatos no 1º turno das eleições deste ano e será decisiva para a disputa presidencial, que será decidida em 2º turno, no dia 30 de outubro. Ela reitera dizendo que “nós precisamos da voz dos jovens, porque a nossa já está rouca de tanto falar, dialogar e formar opinão”.

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