Observatório Luminar
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Um novo 1968?

 

EDITORIAL | Polícia do Rio de Janeiro mata jovem negro durante conflito. A manchete poderia ocupar as capas dos jornais cariocas todos os dias, mas a banalização do crime entorpece editores e leitores que a silenciam. Há 50 anos, entretanto, uma morte tomou espaço na mídia: Edson Luís de Lima Souto, estudante que protestava contra o aumento da comida no restaurante Calabouço foi baleado por policiais. Era março de 1968. O assassinato do jovem escancarou a violência que estava sendo adotada pelo regime civil-militar que ocupava o poder no Brasil.

 

Março de 2018. Mais uma vez, a morte de uma jovem mulher negra ocupa as manchetes dos jornais. E inunda as redes sociais, ecoando a notícia, mesmo que alguns veículos a queiram esconder ou minimizar. Marielle Franco, 38 anos, socióloga e vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), foi executada a tiros na noite de 14 de março. O assassinato joga luz sobre um regime de exceção sob o qual vive o país desde o ataque formal à democracia, em agosto de 2016, quando a presidente Dilma Rousseff, eleita democraticamente, foi impedida de continuar seu mandato por jogos políticos e interesses escusos.

 

O atual regime, usando como sustentáculo um sistema judiciário falho e um congresso de maioria investigada por corrupção, vem assassinando figurativamente os direitos civis conquistados a duras penas pelos brasileiro. Mas agora, com a intervenção militar no Rio de Janeiro, parece dar autorização também para assassinar literalmente os cidadãos e cidadãs do Brasil.

 

Há 50 anos a morte de Edson Luís marcou o início do período mais violento do regime civil-militar. Diante do cenário de instabilidade e violência que cada vez mais se estabelece, assassinando políticas públicas, destruindo direitos e ceifando vidas vemos se desenhar um novo 1968. Garantias constitucionais são negadas e a democracia, negligenciada. O que mais devemos esperar quando são justamente aqueles que deveriam proteger os direitos civis e garantir o cumprimento da lei são os primeiros a ignorá-la? Triste março de 2018.  

Agência Conexões
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