05 abr Um país na reserva: educação financeira e pandemia
A partir de 2017, a educação financeira passou a fazer parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um tema transversal, que deveria ser trabalhado em diversas disciplinas nas escolas. No entanto, a maioria das escolas não são bem sucedidas na implementação do tema em sala de aula, e muitas vezes, , nem em treinar os professores a trabalharem o assunto. O relatório anual de 2019 do Projeto De Educação Financeira Nas Escolas, da Associação de Educação Financeira no Brasil (AEF-Brasil) em parceria com o Serasa, mostrou que 94% dos pais e responsáveis acham importante ou muito importante seus filhos aprenderem sobre educação financeira nas escolas, mas essa não é uma realidade em quase todo o território nacional.
Com a falta de orientação nas escolas, a maioria dos indivíduos aprendem a como administrar seu dinheiro, ou a executarem processos simples como abrir uma conta em banco, com seus pais ou responsáveis, isto quando não descobrem na prática. É inegável que milhões de brasileiros perdem dinheiro ou deixam de fazer planejamentos futuros devido à falta de conhecimento, tendo em vista que praticamente nada sobre o assunto é repassado no ensino tradicional.
De acordo com a Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Brasil encerrou o ano de 2020 com o maior número de pessoas endividadas nos últimos 11 anos. Em março de 2021, a porcentagem de famílias endividadas chegou a 67,3%, uma alta de 1,1 ponto em relação a março de 2020, alcançando a maior proporção histórica de endividamento no país, abaixo apenas do mês de agosto de 2020. O mau uso dos cartões de crédito é o maior contribuinte para esse endividamento pessoal.
Sem a aplicação de conceitos e ideias básicas sobre educação financeira nas escolas públicas brasileiras, os indivíduos que não possuem poder aquisitivo para buscar conhecimento sobre o assunto são os mais prejudicados. Uma evidência disso são as dificuldades enfrentadas nos momentos de crise, como a pandemia.
Há mais de um ano lidamos com a pandemia do novo coronavírus, esse cenário demandou medidas de prevenção e, por isso, alguns estabelecimentos tiveram que modificar suas formas de atendimento, diminuir o horário de funcionamento ou então fechar, intensificando o aumento do desemprego no país. Muitas dessas pessoas, prejudicadas pela exigência de lockdown que a pandemia trouxe, passaram a viver da reserva de emergência que possuíam em suas poupanças. Em fevereiro deste ano, o Banco Central (BC) informou que a caderneta de poupança registrou pelo segundo mês consecutivo a maior saída líquida desde 2016.
Entretanto, a maioria dos brasileiros não possuem essa reserva de emergência por diversos motivos, como salários baixos e alto custo de vida, as dificuldades em administrar e poupar dinheiro, a importância de possuir esta reserva, mesmo que guardando pouca quantia por mês e também por não possuírem uma “sobra” por mês para guardar.
A falta de políticas públicas sociais que atuem para fornecer uma melhora na condição de vida dos brasileiros e brasileiras que recebem pouco é preocupante, tendo em vista que essas pessoas, precisam sustentar suas famílias e permitir que elas permaneçam em casa diante da pandemia. O desemprego, a fome e a diminuição das doações pela crise agravaram ainda mais essa necessidade. Segundo a FGV Social, em agosto de 2020 eram 9 milhões de brasileiros na linha da pobreza, mas em fevereiro deste ano este número triplicou para 27 milhões de brasileiros que vivem com apenas R$246 mensais.
O novo auxílio emergencial de R$250, liberado a partir de abril deste ano, não é o suficiente para sanar as necessidades básicas dos beneficiários, facilmente percebido quando consideramos a alta de preços da cesta básica e do gás de cozinha, por exemplo. Ao mesmo tempo, o presidente anuncia acreditar ser o suficiente para melhorar a economia do país, sem fazer menção a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.
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