16 nov Uma luta por terras
Posted at 00:46h
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by Agência Conexões
Guaraci, da etnia Tupinambá, comenta sobre a representação dos povos indígenas na mídia e a luta deles pela demarcação de terras. Foto: Cecília Almeida | Agência Conexões Havia um homem com cocar na plateia. Ele e algumas dezenas de estudantes esperavam a palestra de abertura do “III Encontro Questão Indígena e Educação”, promovido pelo Museu do Índio na Universidade Federal de Uberlândia. O homem se apresentou como Índio Guaraci, da etnia Tupinambá. Ele chegou para o evento alguns minutos antes do começo. Em Uberlândia, chegou anos atrás. São 40 anos, segundo suas contas, 18 deles lutando pela demarcação de terras. Enquanto esperava, dentro de um auditório no campus Santa Mônica, lamentou sua falta de estudo. “Todos aqui têm uma oportunidade que eu não tive”, comentou o indígena. Guaraci tem no currículo somente o que aprendeu até a quarta série. Hoje trabalha como funcionário público, mas houve uma época em que precisou de doações. “Eu pedi esmola pra fazer o enterro do pai meu”, relembra. Ele explica que há escolas nas aldeias indígenas, em que é possível aprender a língua nativa e o português. Guaraci sonha em ter uma aldeia. Sonha e luta. O índio é vice-cacique e faz parte do Movimento dos Indígenas Não Aldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MInA). Atualmente está com uma demanda na justiça para conseguir demarcar como reserva três territórios, mas acredita que será concedido somente um. Na desejada aldeia, Guaraci e os outros indígenas que estão lutando pelas áreas, esperam ser possível construir um centro cultural, para poder mostrar para os uberlandenses a cultura indígena como ela realmente é. “[Quem for à aldeia] vai saber o que é uma casa de reza, quais são as comidas típicas indígenas. O que a mídia mostra é bem diferente”, explica. A representação indígena feita pela mídia é um problema para Guaraci. Assim como a tecnologia e a vida na cidade. “[Quando mostram] Aqueles indígenas isolados, sem tecnologia, sem energia, os índios viviam desse jeito”, comenta. “A gente vivia tão bem”, complementa o índio. Apesar dos problemas, ele revela também ter um celular e um Facebook, mas lamenta que as pessoas passem mais tempo, segundo sua perspectiva, no mundo virtual que no real. Como exemplo, olhou para plateia e comentou sobre todos os que estavam conectados na internet, enquanto esperavam. Durante a palestra com um antropólogo, Guaraci e outros indígenas assistiram. Quando ele concordava com o que era dito sobre representação do índio na história e demarcação de terras balançava a cabeça. Guaraci foi embora mais cedo. Aquela história ele já conhecia.
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