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Uma vida de atrasos

 

“Todas as pessoas que eu conheço que recebem bolsa ficaram assustadas, porque a gente depende disso para continuar na faculdade”, disse a estudante. Foto: Arquivo Pessoal 

 

Ônibus atrasam, obras atrasam, eventos atrasam. Poucas premissas são tão conhecidas e toleradas no imaginário coletivo quanto a de que o Brasil é um país de atrasos. O não cumprimento de horários é banalizado o suficiente para que muitas pessoas se programem considerando-o. Mas às vezes o preço dos atrasos ameaça destruir sonhos.

 

Andressa Bachur é estudante do quarto período de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Apaixonada por artes e por cidades, escolheu a área porque “gostava muito da parte artística, de música, de dança” e acha que “a arquitetura tem muito a ver com tudo isso, com corpo, com movimento”. Natural de Franca, São Paulo, ela viu uma oportunidade de fazer o curso que desejava há 254 km de casa.

 

Já dentro da Universidade surgiram os problemas, além dos trabalhos e preocupações acadêmicas, existia também o de se manter em outra cidade. Para resolver isso e continuar os estudos, Andressa conseguiu, no segundo período, ter acesso às bolsas de auxílio moradia e alimentação oferecidas pela UFU. “Eu tenho auxílio moradia, como eu não consegui vaga na moradia da UFU eles pagam o valor do meu aluguel”, relata a estudante.

 

Andressa, porém, viveu recentemente o medo de não ter mais um lugar para morar. As bolsas atrasaram por praticamente 10 dias e ela não tinha como pagar o aluguel: “eu avisei a dona do pensionato, ela ficou me cobrando todos os dias. Eu preciso pagar meu aluguel de qualquer forma, ela não tem nada a ver com o atraso, eu só não tinha como”.

 

Dentro do pensionato onde vive, mais cinco meninas também estavam na mesma situação. Na própria sala de aula, soma-se mais duas pessoas a conta. “Todo mundo ficou se comunicando, tentando ajudar um ao outro. Toda informação que a gente recebia, comunicado da UFU, a gente repassava. Nós ficamos bem preocupados, na verdade”.

 

O sentimento de medo prevaleceu até o último domingo (08), quando as bolsas foram recebidas: “todas as pessoas que eu conheço que recebem bolsa ficaram assustadas, porque a gente depende disso para continuar na faculdade.” Desde o tempo que Andressa é usuária dos programas de assistência estudantil, ela relembra que já houve um atraso, mas que essa foi a primeira vez que atrasou tanto.

 

O medo maior, para ela, era de que acabassem efetivamente as bolsas, pois isso significaria a perda do sonho : “meus pais não teriam condição nenhuma de me bancar aqui. Se eles cortassem, a única solução pra mim seria trancar o curso e voltar pra casa”.

 

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